sexta-feira, setembro 08, 2017

UM FIM DE SEMANA

Passamos os dias úteis
esperando pelos outros
que nos são mais desejáveis.
Seriam aqueles inúteis
e estes, dos fins de semana,
um paraíso, oásis?

As cabeças voejam
pés caminham autômatos
por entre salões, corredores
comércio, indústria ou cultura
compõem aberta sepultura
para quem o trabalho é ópio
que anestesia o prazer
e que anseiam pelo ócio
do breve fim de semana.

Você começa a segunda-feira
já carregando no bolso
a entrada do show do sábado.
Você passou pela porta
do escritório ou fábrica
mas seu coração não entrou.

Você carrega na terça,
um caderno em suas mãos
dentro uma fotografia
e o bilhete amassado
do evento edulcorado
que o tempo já levou.

Talvez não queiramos muito;
o pouco seja suficiente:
um guaraná brasileiro,
pequena fatia de pizza,
e alguém ali à frente
com um sorriso no rosto
e sinceridade no coração.

Tem gente que vive
três milheiros de fins de semana
pra descobrir que a felicidade
estava nas pequenas coisas
e nos dias que tornamos úteis
pela doce alegria de viver.
Mas, como o tempo é implacável
quase sempre não há chance
de sequer se arrepender.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
31/08/2017 (04h51min).

CHAMA

como fazer você
voltar-se para mim?
o sonido incerto que clama
dessa voz que débil chama
é o que possuo enfim...

como mover você
em direção ao sol ardente
este coração incandescente
a anunciar que ama
posto que pura chama?

como levar você
a se aquecer neste fogo
a desviar-se da lama
não ser rasteira, qual rama?

sê labaredas, eu rogo!

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
31/08/2017 (04h32min).

quinta-feira, setembro 07, 2017

MEMÓRIAS

Colecionamos memórias
e sempre tem algo junto
pra reforçar a lembrança

preenchemos álbuns
juntamos moedas, selos, garrafas
fazemos desta memorabilia
nosso lugar de recordação

gostamos de revisitar fotos
rever rostos antigos
e corpos que já não são
da gente mesmo ou de alguém

há até os que vão mais longe
e fazem de sua casa
um pequeno museu de acontecimentos

borboletas e lepidópteros
cartões postais e bilhetes
de passagens ou de jogos
anunciam que já se viveu algo

de numismática a filatelia
passando pela taxidermia
colecionamos loucuras

mas a emoção dos momentos
que só a gente viveu
se não viram monumentos
em tela, papel ou arte
registram-se na memória
que se desfaz com a morte

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
31/08/2017 (04h20min).

IGREJA

E se existisse
uma igreja
de santos

um culto
de arrebatados

uns cânticos
para celebrações
sem palavras

se existisse
um templo
sem portas de saída

um hinário
de partituras
do coração
que recolhesse
todas as loucuras
dos que atravessaram
com vida
o Vale da Sombra da Morte

se existisse
uma pregação sem púlpito
um pastor sem terno
um coral sem regência humana
estudo bíblico sem professor

se existisse
um ofertório
sem gazofilácio
sermão sem apelo
igreja sem Casa de Cultos
discípulo sem evangelização
Reino sem missões

se existisse
colheita sem semeadura
fé sem palavra de Deus
salvação sem arrependimento
vida eterna sem obras
Calvino sem Armínio

se existisse
morada nos céus
sem galardão

um culto silencioso
num templo sem luzes

seria o mesmo que acreditar
que existe Deus sem Jesus
que existe Cristo sem cruz.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
23/08/2017 (06h05min).