domingo, fevereiro 05, 2017

VERSOS URBANOS – I

Você está no trânsito
e um poema cheio de luz
bate no para-brisa como sol
preenchendo sua alma e seu ânimo.
Palavras soltas como carrinhos
de compras no supermercado
percorrem céleres
por entre as gôndolas
ordenando o caos.
Há uma simetria na desordem
por onde se origina a poesia.
Palavras brilham na luz
como, também, refletem sua
luz interior.
Você segura o volante com mais força
como se quisesse sentir-se
firmado em algo sólido
já que a poesia o convida
a invadir o Cosmos.
Nem entende como consegue dirigir
tomado de assalto pela utopia
de enxergar no caos a poesia.
É que o trânsito está parado
e o engarrafamento cria na avenida
duas filas paralelas
de carrinhos estáticos.
O sol bate pleno em
toda a extensão do para-brisa.
A moça do vestido vermelho
troca de roupa no carro da frente;
pelo espelho retrovisor
você vê ressonar o motorista de trás;
três infantes brincam estridentes
no banco traseiro do carro ao lado;
e você procura na pasta
seu caderno de anotações.
Você gostaria de escrever
o poema do momento,
um poema urbano,
em que as palavras não sofressem
o engarrafamento do trânsito.
Você olha para o lado da calçada
e os pedestres percorrem ligeiros
os espaços apertados da urbis.
É quando você descobre
que não se podem aprisionar palavras
e que seu poema vai gritar alto
este seu sentimento
e ecoar livre e altissonante
a poesia da vida
em todo coração amante,
mesmo que você esteja preso
por detrás de um simples volante.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
15/01/2017 (05h43min).


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