Fotografar
o entorno e nele desejar aparecer.
Fotografar-se
e imortalizar o instantâneo.
No
passado havia fotografias
e
o que as lentes captavam registrava a efeméride.
Hoje,
se registra tudo, o íntimo, o pessoal;
e
se expõe ao mundo: a banalização do eu.
As
imagens registradas se perdem nas nuvens...
Orkutaram-se
as raízes da onipresença midiática:
são
inglórios, os quinze minutos de fama?
Adolescentes
europeus querem ter o direito
de
eliminar o seu passado das redes sociais:
fizeram
muita merda e não aguentam mais o mal cheiro.
A
Sociedade mergulhou na mídia sem “grilos”.
Agora,
pausa para uma reflexão pós-sistêmica
em
que paradigmas se desconstroem e o
self
relacional se esboroa no neo-individualismo:
onde
vai dar essa superexposição de corpos e pensamentos?
O
autorretrato, selfie para os anglófonos,
é
um brinquedo narcísico das eternas crianças que habitam em nós.
O
quanto de inofensivo ou cruel há nisso, ainda não o sabemos.
Nesse
mundo desmemoriado o autorretrato pode ser
uma
metáfora gritante da escassez de sentido:
tudo
guardar para tudo perder;
tudo
perceber para tudo lembrar;
tudo
registrar para tudo esquecer;
tudo
entrever para tudo apagar.
O
indivíduo desmemoriado é o ícone do presente
e,
subentende, passado não haver.
De
tudo não se lembrar;
do
passado nada registrar;
o
presente viver;
o
futuro pode não existir.
Viva-se
o aqui e o agora e viva-se intensamente
(na
maximização do prazer hedonístico)
que
o tempo é curto
e
o passado não volta
e
o futuro não vem.
Uma
foto que registra
várias
pessoas fazendo autorretratos,
simultaneamente,
constata também:
nossa
era perdeu o sentido do coletivo;
mesmo
estando presentes, a ausência fala mais alto;
o
micro supera o pequeno e se auto-anula;
para
o ego convergem os interesses;
um
registro principal é feito de frações de registros;
agora,
levamos pra casa o eu e um borrão do restante;
levamos
pra casa o eu que já tínhamos
e
recusamos a metanóia.
Somo
sensíveis ao que nos exclui
e
excluímos descaradamente os outros.
Nossa
Sociedade é egoística-narcisista-hedonista.
Fotos
digitais hoje precisam ser boazinhas
e
incluir um excelente relacionamento com a gente mesmo.
Senão,
não vão para os céus...
Pelo
menos para os céus das redes sociais
a
refletir nossos rostos nas nuvens
até
que um hacker-demônio a carregue...
Josué
Ebenézer – Nova Friburgo,
04 de Agosto
de 2015 (11h53min).
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