quarta-feira, agosto 06, 2014

HOMO ENDOFONE

Nestes tempos tecnológicos
para mim um tanto ilógicos
o homem já não existe só
e não sei onde vai parar...
É o homo endofone
que fez implante em seu corpo
de um aparelho celular.

Por onde quer que ele ande
onde haja um da espécie
não é difícil de ver.
Lá está o homo endofone
com o adereço nas mãos
me inquieta entender.

Me inquieta observar
o homo endofone absorto
os dedos mexendo nervosos
no aparelho celular,
extensão do próprio corpo.
O mundo parece morto
enquanto está a digitar.

Homo endofone:
homem ensimesmado,
homem isolado,
trancado em si mesmo.
Homem absorto,
homem quase morto,
um pária social
que perdeu o tato pra vida.

O homo endofone
evita o contato:
pele com pele,
face com face,
olhar com olhar.

Suas relações são intermediadas
pelas tecnologias
são relações frias –
de recato e solidão.

O homo endofone
perdeu a sensibilidade
da lágrima nos olhos
da face enrubescida
da voz embargada
e da vergonha na cara.
Sua sensibilidade agora é eletrônica
mediada por toques de celular
que indicam o que se vai ler
com quem se quer falar...

Tempo bom era aquele
que seu Zé estava logo ali
que a Maria era cheia de graça
e o João nos fazia rir.
A gente tinha a presença real
de gente de carne osso
cuja sensibilidade era determinada
pelas vertentes do coração.

Hoje, o homo endofone
não importa se pequenino
ou deste tamanhão –
se esconde atrás de um telefone
e pra isto eu tenho um nome
se chama tecno-abstração.

Enquanto seres envelhecem,
a vida se esvai
e celulares ficam obsoletos,
Diante de olhos que secam,
sorrisos que murcham
e tempo que não se recupera
o homo endofone se desintegra.

Josué Ebenézer Nova Friburgo,
Cachoeiras de Macacu, Itaboraí (em trânsito),

27 de Junho de 2014 (10h11min) – 28 de Junho de 2014 (07h34min).

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