domingo, julho 06, 2014

O PREGADOR DA PRAÇA

Arquétipo do Messias
estereótipo da ilusão
o pregador é um ente
sobrevivente da esperança.

Foi uma visão de entardecer
aquele pregador na praça
corpo magro em paletó velho
brandindo sua fé para a raça.

Diante de povo que não para
de gente que anda sem ver:
uma Bíblia surrada na mão
como muleta para o existir.

Ele apontava o dedo
acusatório dedo em riste –
para os ouvintes imaginários
de uma oca prédica louca.

Ele esbravejava feroz
aos gritos de palavras soltas
uma escatológica angústia
da solidão do ego exposto.

O burburinho era grande
na praça da cidade antiga
de apito, sirene, ambulante
enquanto o pregador grita.

Enquanto o tempo passando,
os carros fluindo velozes,
o paletó do pregador soltando
e o vento abafando vozes.

O pregador não tem ouvinte,
o pastor está sem rebanho
e a praça fervilha emoções
de corações distanciados.

A tempestade se avizinha,
o pregador se descabela,
mas as rajadas se incumbem
de arremessar folhas ao vento.

No hiato entre pregador e praça
há um intervalo de insanidade
a alienação é o selo do caos
que domina o estertor da cidade.

O relativismo duma vida sem Deus
faz produzir quem Deus queira ser
implanta caos nos relacionamentos,
aniquila a convivência do viver.


Josué Ebenézer Nova Friburgo,

05 de Junho de 2014 (07h54min).

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