quarta-feira, novembro 14, 2007

ORGULHO FERIDO

Para Fábio Costa

“Que é o homem para que te lembres dele?”
Indaga o texto sagrado, diante da vida vã.
E a gente passa por este mundo, moribundo,
Achando que é dono de tudo, do amanhã.
Mas Deus com seu jeito diferente, sábio,
Açoita nosso eu e faz bater forte o peito
Na moldura de uma lágrima, que insiste em não cair,
Tiritando frágil nos cílios da dor.
E o coração dorido, fraturado,
Encolhe-se na amargura do eu ferido
Destruído, pelo próprio amor!

Ah, existência! Como achar que é bela a vida,
Se nem tudo acontece como sonhamos?
Que lição Deus quer ensinar dessa lida
Se por tudo, e em tudo, dela apanhamos?
Mas é preciso descer do insano pedestal
Para onde subimos sem Deus no coração
E como isto impõe sobre a gente grande mal,
Pois nos iludimos com a altura da sensação:
Inglória, profana, abstrata, irreal.
Pensamos ter poder e força, porém os vermes interiores
Nos consomem lépidos, gemendo e arrotando,
Podridões dos escarros de nossos pecados.

É melhor apanhar de Deus do que da vida
Pois o quebrantar dos corações diante do Pai
É trajetória de esperança e vitória.
Enquanto a vida, com seus desassossegos,
Escreve em nossa carne, outra história,
Deus vai pegando os lugares rasgados,
Remendados por nós mesmos, ao sabor da dor.
E vai costurando, consertando, amalgamando,
De tal forma que onde havia cratera, vulcão e lava,
Agora tem a cura pela sua Palavra
Tem o bálsamo do seu grande amor.

Nova Friburgo, 13/03/2004 (6h15m).

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