domingo, novembro 11, 2007

Náusea

Barulhos bucais de
mastigação lenta
ou apressada
- nojenta
e
barulhos bucais
de dentes
comendo massas
de trigo
e maxilares
triturando
estas massas
em forma de pães
- torrados.

Barulhentos mastigares
- elásticos -
equilibrando a dentadura
na abóbada bucal...
E a sofreguidão
- da dieta
de pães e
leite derramado;
pelos cantos da boca
- descendo...
leite sorvendo.
- Leite
liquidamente
empurrando
a massa bucal
remexida
mixada
pela saliva.

E ela empurrando
pela goela
abaixo da linha
do esgar
regorjitar
vomitar
entre soluços
grandes
odoríferos
do imenso mamífero
que está em seu ocaso
sem se dar conta.
E a massa baixando
ao estômago
- glub-glub-glub
repousando
no colo quente
da digestão.

Os barulhos bucais
sorvem inquietos,
apressados,
nestes mastigares doridos
esgares sofridos
de alimentação:
- Fome.
- Desejo.
Barulhos próximos
da sensação silvosa
da saliva
que faz a massa
na boca bulir no céu
da boca
para transportá-la
ainda
barulhentamente
para a boca
do estômago.

A engrenagem desta
máquina humana,
gasta de velhice e,
cansada de uso,
ressente-se de
lubrificação.

E a massa do
- pão torrado
agora molhado
pede passagem
direta para
os aminoácidos,
as proteínas,
e os componentes
calóricos
que insistem
em tornar
o frágil corpo
sobrevivente
de si mesmo.

A passagem
do engolir
- sorver,
jogar no centro do
Universo digestivo
o pouco necessário
à sobrevivência:
- Clemência de consumo.

E eu ali
naquele nosocômio
- nauseabundo,
ouvindo estes barulhos
- infernais:
de próteses bucais,
de comida postiça,
em dentes idem,
em vida sofrida.
- Arremedo,
Medo.
- Arremeço,
Meço.
- Arre!
- Errei!
- E morro!

...Sem saber quem foi feliz:
- Se aquele que se foi
ou
o verme
que o comia por dentro.

Comecei em Niterói, 16/10/2001e terminei em Nova Friburgo, 20/10/ 2001 (07h15m).

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