segunda-feira, outubro 01, 2007

DO SONHO E DO FUTURO

Dedicada às crianças que a nação
brasileira ainda tem que aprender a amar.


Em termos de poesia, caminho sobre as trilhas
que outros antes de mim abriram
e por elas passaram.
Ainda não sou contador de histórias -
nem sei se um dia o serei.
Apenas faço inventário de emoções e sentimentos...
Sobre alguns, ouço a voz do coração.
Acerca de outros, eu mesmo invento.
Mas há emoções que me são dadas pela vida -
essa vida que se vive alegre, solta, feliz.
Amando e sendo amado.
Vivendo e se fazendo
de sonhos e quefazeres.
A vida também me é observatório -
ou será que o observatório é minha caixa pensante:
crânio, cérebro e neurônios atuantes,
como sistema interligado de armazenamento emotivo?

Olho para as casas, ruas e pessoas. Vejo praças e jardins:
Alguns floridos, bem cuidados.
Outros ressequidos, abandonados.
Tem gente que vive e ama viver;
há quem, porém, já entregou os pontos.
E olho para o trabalhador
cansado, suado,
carcomido por suas obras,
com um olho vivo de nordestino
ou mesmo de ruralista adaptado das urbes.
E no meio do reflexo solar,
do trabalhador em seu olhar,
há um sonho com nuvens e céu presentes.

Vejo as donas de casa laboriosas,
charmosas, garbosas de suas andanças
desmesuradas pelo comércio
mesmo quando domina o tédio
e não executam qualquer gastança.
Elas também têm desejos, nem de todo satisfeitos.
E o mundo, então, se faz mar de insatisfação.
Talvez as cortininhas e jardineiras
e as rendinhas de bordadeiras
não sejam suficientes para amaciar a dura realidade
da criação dos filhos,
da alimentação, da educação,
da enxada e da capina
da horta e da porta
da casa que quase sempre está fechada
para a entrada da esperança.
É a mulher quem vive
de perto essa história,
trajetória
insalubre de quem já não pode trabalhar duro no tanque
porque são poucas as peças das crianças:
de há muito o guarda-roupa não é renovado.

Percebo as crianças perambulando descalças
ou bem-vestidas,
nas calçadas de bomboniére.
Olhares gulosos
paquerando guloseimas;
catando centavos dos bolsos furados de tanto uso
pra saborear bombom recheado de vento.
As cerejas, morangos e castanhas estão em outros bombons...
As crianças são o futuro do Brasil
mas o país dá o furo de não valorizá-las,
de deixá-las maltrapilhas, largadas nas ruas da vida.
E os cantos de rua, e os bancos de praça,
e os quiosques abandonados vêem a cada manhã
acordar cobertores azedos de sujeira
embrulhando o futuro.

Como dizia: de poesia sou apenas aprendiz.
Mas a vida vai ensinando a gente...
Mesmo na dura realidade de um país que não se muda,
quero descortinar um vislumbre de transformação pois a vida é bela -
apesar de tudo!

Nova Friburgo, 12/06/2000 (10h54m)

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